O velho elevador

by terça-feira, 15 de setembro de 2015 15:15 0 comentários

O apartamento fica a quatro quadras de onde estou. Mas aqui não é como lá. As ruas são mais largas e os quarteirões, maiores. Passavam das dez e o frio fazia doer as pontas dos dedos. Ela me chamou pra ir lá, disse que estava tudo bem, que poderíamos ver um filme ou algo mais. Seria a terceira vez que os visitava. Cidade nova, carne nova. Decidi evitar o perigo e peguei um táxi. Dez reais.

Tive um sonho estranho. Eu e minha mãe navegávamos em uma canoa e, não lembro direito, parecia um filme de terror, mas estranhamente eu não sentia medo. A sensação de que tudo poderia acabar mal não me aterrorizou. Não naquela noite. Dormi feito um anjo - se é que essa expressão faz algum sentido.

Às 11h, eu não conseguia abrir os olhos direito, enquanto segurava uma xícara de café. Preto, sem açúcar. Houve um tempo em que era mais doce, mas passou. Lemos alguns textos, vimos centenas de fotografias. Conversamos sobre tudo isso e rimos de vídeos engraçados.

"Preciso ir", falei. O estranho é que, na verdade, não precisava. Cidade nova, carne nova. Não tinha quem encontrar ou alguma reunião pra ir. Só um quarto pra voltar - que nem meu é, aliás. Mas, de alguma forma, eu deveria ir. Às vezes, o tempo das coisas se marca naturalmente, como uma cena que precisa terminar para que o filme possa seguir seu fluxo, sua narrativa.

O elevador, antigo e espaçoso, com aqueles botões redondos e pretos, demorou alguns segundos para chegar ao quarto andar. Apertei o botão do térreo, mas curiosamente ele começou a subir. Parecia não parar. Lembrei de um sonho que tive frequentemente durante anos.

Eu entrava no elevador, mas nunca saía no andar desejado. Apertava o sexto e saía no 32º. Apertava o térreo e saía no terceiro andar. A sensação de estar presa, de impotência era horrível. E, por um instante, estranhei aquele velho elevador subindo ao invés de descer. Máquinas!

Parou no 14º andar. Uma senhora entrou e sorriu ao me ver. Talvez, minha expressão estivesse meio estranha, porque ela me olhou como se me perguntasse o que houve. Respondi. Disse que estava em outro andar e o elevador começou a subir. "Em qual andar você estava?". "No quarto". "Nossa, 10 andares acima!".

Ela falou que era assim mesmo. Que, volta e meia, ele parava. "Você nunca ficou presa aqui não?", perguntou numa naturalidade quase estranha. Expliquei que não morava ali. Ela ficou falando sobre como o elevador era velho e, por isso, sempre dava algum problema. Sorri e, ao sairmos, desejei um bom dia àquela simpática senhorinha.

O tempo passa diferente para pessoas e para máquinas. E, talvez a senhora não soubesse, mas o tempo que passou pra ela me ensinou uma coisa naquela manhã. Às vezes, a única opção que temos é, só e simplesmente, esperar a cena terminar.

Autora

Escritora e jornalista, Isabella é apaixonada por poesia, por música e por fotografia. Ama beber uma cerveja gelada e dançar Beyoncé nas baladas.

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